• Terça, 05 de Novembro de 2024

Escuta e acolhimento familiar são aliados no combate ao abuso sexual contra crianças e adolescentes

No Dia Nacional do Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescente, entenda como o papel da família é fundamental no acolhimento e enfrentamento


Dia Nacional do Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescente (Nathalia Alcântara, Jornal Midiamax)

O abuso sexual é considerado um dos piores crimes contra a infância. Além da invasão à intimidade e ao corpo da criança, vem normalmente acompanhado de ameaças, violências físicas e psicológicas. Tudo isso, somado ao fato de a vítima estar em desenvolvimento e não ter conhecimento do que está acontecendo, gera marcas que a criança levará para a vida toda.

Segundo a psicóloga Emília Luna, com certificação neurocompatível e Master em ESEPAS (Educação Sexual e Prevenção ao Abuso Sexual Infantil), quanto menor a criança for, maior será o impacto emocional.

Isso porque a vítima apresentará, até a fase adulta, problemas de autoestima, não conseguirá desenvolver vínculos afetivos, terá dificuldades em confiar em outras pessoas e conviverá com o sentimento de que aquele episódio traumático poderá acontecer novamente um dia. Por isso, um acompanhamento psicológico é indispensável.

É comum que as vítimas se culpem pelo abuso sofrido, mesmo na infância. Segundo a especialista, muitas crianças acreditam ser culpadas pelo abuso e por isso há uma demora para que o relado e a denúncia sejam feitos, em muitos casos.

O medo de denunciar está diretamente relacionado ao fato de a sociedade também julgar essas crianças, principalmente na fase da pré-adolescência.

“A visão que as pessoas têm também interfere. Muitos acusam as vítimas por causa da roupa, questionam o motivo de terem ficado perto do agressor, questionam o motivo delas não terem denunciado antes, dizem ‘ah, se demorou pra falar é porque estava gostando’… Tudo isso reforça a culpa que a criança sente e impede que ela se sinta confortável em prosseguir com a denúncia', pontua Emília.

A situação é ainda mais delicada quando a vítima é um garoto, que naturalmente sente muito mais dificuldade em contar o que aconteceu, porque muitos, desde pequeno, associam a violência aos tabus relacionados a sexualidade. A psicóloga afirma: nestes casos, o julgamento da sociedade é muito maior.

Assim, o número de denúncias em relação a meninos, vítimas de abuso sexual, é muito menor.

O papel da família é fundamental. É necessário que a criança seja acolhida e enfatizado a ela que o que aconteceu não é sua culpa, que ela é a vítima.

“É primordial que a família acredite no que a vítima está falando, porque para ela chegar e contar o que aconteceu, já é muito difícil. Se as pessoas não acreditarem, ela vai se sentir acuada, o abuso vai continuar e os danos no futuro dela serão ainda maiores', pontua Emília.

Após ouvir a criança, é imprescindível que a família faça a denúncia e busque os atendimentos clínicos necessários. Toda vítima de violência precisa de amparo psicológico.

“Quando os pais denunciam, fica muito mais concreto para a criança que ela está protegida, que ela foi ouvida e será cuidada', afirma.

A psicóloga pontua ainda que, durante a abordagem no tratamento clínico, não são feitas perguntas diretas sobre o abuso para a criança. O principal objetivo é criar um ambiente confortável para a vítima, de forma que ela se sinta segura para, aos poucos, se abrir sobre o tema.

E assim como é necessário para as vítimas, muitas vezes é fundamental que a família também busque por ajuda médica para lidar com a situação e saber orientar a vítima ao longo do processo.

“Em alguns casos, os pais precisam ser encaminhados para tratamento, porque o impacto é muito grande. Eles sentem culpa por acharem que não conseguiram ajudar e proteger o filho. É muito doloroso para eles também', pontua.

Já os casos em que tratamento psicológico não são cruciais para os pais ou responsáveis da vítima, o profissional que atende a criança orientará para que eles consigam prestar o suporte necessário à vítima.

“É comum que após a denúncia a criança comece a dar novas informações sobre o abuso, ou então mudem de comportamento, mude hábitos, e os pais precisam estar atentos a tudo isso, para lidar da melhor forma', explica.

Infelizmente as estatísticas apontam que a maioria dos crimes contra crianças e adolescentes são cometidos por familiares ou conhecidos da vítima. Por isso, é fundamental que toda a rede de apoio esteja atenta aos sinais que a criança demonstra, como:

Mudança de comportamento repentino: se a criança sempre foi muito calma e agora está agitada e/ou agressiva – ou vice e versa – é importante ter um diálogo aberto e entender o motivo dessa alteração; Alteração de sono: a criança pode ter mudado sua rotina de sono ou apontar dificuldades para dormir com pesadelos frequentes; Insistir para não ir a um lugar específico ou ver uma pessoa; Começar a reproduzir o abuso nos brinquedos: muitas vezes, antes mesmo de contar para alguém sobre os abusos, as crianças começam a reproduzir o que passou com o abusador em seus brinquedos ou durante as brincadeiras com crianças menores; Demonstrar um comportamento sexualmente explícito para a idade.Mudança de comportamento repentino: se a criança sempre foi muito calma e agora está agitada e/ou agressiva – ou vice e versa – é importante ter um diálogo aberto e entender o motivo dessa alteração;Alteração de sono: a criança pode ter mudado sua rotina de sono ou apontar dificuldades para dormir com pesadelos frequentes;Insistir para não ir a um lugar específico ou ver uma pessoa;Começar a reproduzir o abuso nos brinquedos: muitas vezes, antes mesmo de contar para alguém sobre os abusos, as crianças começam a reproduzir o que passou com o abusador em seus brinquedos ou durante as brincadeiras com crianças menores;Demonstrar um comportamento sexualmente explícito para a idade.

É por isso que, cada vez mais, se faz necessário implementar a educação sexual nos lares, aponta a especialista. Para Emília, ensinar a criança a entender seu próprio corpo e que alguns toques são inapropriados, é fundamental.

“Muitas pessoas têm receio desse assunto, mas é muito importante que a criança tenha esse entendimento. Infelizmente, isso não ajudará ela a impedir o abuso porque um adulto é muito mais forte que uma criança. Mas ela vai saber reconhecer que o que aconteceu é errado, denunciando o caso com muito mais rapidez”, esclarece.

Em fevereiro, o Ministério da Saúde lançou a cartilha online ‘Caminhos para a Construção de uma Educação Sexual Transformadora’, que aborda de forma simples e direta o potencial do tema para a transformação da sociedade e para a construção de uma vida mais livre, igualitária e saudável, baseada na autonomia de cada pessoa.

A porcentagem de quadros depressivos e ansiosos em vítimas de abuso sexual na adolescência é alarmante. Segundo a psicóloga Thalita Dias Shimabukuro, especialista em Transtornos Escolares e TCC na infância e adolescência, este momento de transição da infância para a vida adulta, pode ser um período de inquietações, dúvidas, descobertas e de procura de identidade.

Após passar por uma situação traumática como esta, a pessoa pode sofrer uma perturbação nos pensamentos, nas emoções e no comportamento, apresentando dificuldades em relação à autoimagem (por conclusões negativas a respeito de si mesma). Além disso, pode apresentar alterações comportamentais, como ficar mais sozinho, mais retraído.

“Precisamos compreender que cada pessoa vai responder de maneira diferente, devido à subjetividade de cada um, porém, modificações comportamentais podem ocorrer. Por isso, buscar ajuda profissional é extremamente importante, para que a criança ou adolescente possa seguir em frente, apesar da dor e do sofrimento”, explica a psicóloga.

Assim como na infância, o adolescente também pode apresentar alterações do sono, da alimentação, alterações físicas, como o aparecimento de hematomas, assim como alterações no desempenho escolar.



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